Pressão pela retomada do futebol entre julho e agosto é unânime na América do Sul

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Foto: Ascom Campinense
Os primeiros países a enfrentarem a disseminação da covid-19 encaminham os passos finais para a volta ou encerramento das competições nacionais de futebol. Contudo, na América do Sul, a situação está longe de ser resolvida. Como as nações sul-americanas tiveram contato com o vírus bem depois da Europa e da Ásia, a maioria dos países enfrenta uma escalada da disseminação da doença, que ainda não atingiu seu pico de contágio.
O cenário é preocupante e desfavorável ao futebol. No entanto, as ligas nacionais do continente possuem um alinhamento: retomar as competições entre o final de julho e o início de agosto. Em meio a esse contexto, o Estado realizou um levantamento da situação do futebol nos países sul-americanos e contou com o relato de alguns jornalistas esportivos de seus respectivos países. De antemão, os cenários são bastante similares: ascensão da curva pandêmica e vontade de fazer com que a bola volte rolar.
Argentina – Inaki Goyeneche, ESPN Argentina
Mais de 5.200 casos confirmados de covid-19 e mais de 250 óbitos
“Aqui, na semana passada, foi anunciado o fim da temporada e o cancelamento dos rebaixamentos, que favoreceram, entre outros, o Gimnasia, treinado por Maradona. Por outro lado, existem muitos pedidos financeiros dos clubes e a AFA (Associação do Futebol Argentino) disse que não há dinheiro. Ainda não há uma palavra sobre uma possível data de retorno. O presidente Alberto Fernández não falou dos prazos, mas disse que o retorno ficará sem audiência por algum tempo. A AFA, obviamente, diz que estão quase prontos, mas, sendo objetivos, falam de um retorno para o final de julho, agosto.”
Colômbia – Óscar Ostos, editor do Gol Caracol
Mais de 8.900 casos confirmados de covid-19 e mais de 390 óbitos
“O Campeonato Colombiano e a Federação Colombiana de Futebol (FCF) entregaram um protocolo de saneamento para procurar formas de solução, para poder voltar o futebol a portas fechadas. Esse protocolo está sendo analisado pelo Ministério do Esporte e pelo Ministério da Saúde. Há expectativas de que provavelmente será possível jogar no final de julho ou no início de agosto. Clubes estão em situação financeira difícil, com cortes nos salários. Foi jogado até a primeira semana de março.”
Peru – Omar Paredes, Jornal Exitosa
Mais de 54.800 casos confirmados de covid-19 e mais de 1.500 óbitos
“Bem, os jogadores querem jogar novamente com o risco de contágio, apesar de saberem que não existem muitos testes moleculares disponíveis no Peru. E, apesar do fato de que a taxa de mortalidade no país tende a aumentar nos próximos meses, especula-se que o futebol retornaria em agosto. Como a fase planejada pelo governo para a realização de shows em massa só aconteceria em Lima e nesse período poderá haver um brutal crescimento da doença, vejo muita dificuldade em enfrentar tanta dor. A situação no Peru é dominada pela mesma inconsciência latina de querer sair em massa, não manter distância, ignorar tudo. A TV também pressiona.”
Uruguai – Pablo Benitez, El Observador
Mais de 670 casos confirmados de covid-19 e mais de 15 óbitos
“O futebol foi suspenso aqui em 13 de março. O último anúncio oficial foi sobre a retomada dos treinamentos em julho e a volta do campeonato em agosto, se as condições sanitárias estiverem em vigor. Os jogadores estão desempregados (recebem um subsídio do estado). O salário mínimo de um jogador de futebol é de pouco mais de US$ 41 mil (cerca de R$ 241 mil) e eles recebem 60% do estado. Alguns clubes os complementam pagando as porcentagens restantes, como Peñarol, que alcançam salários de US$ 60 mil (R$ 352 mil), oferecidos para pagar uma porcentagem extra que nem sequer cobre o salário, porque o subsídio do estado é limitado a US$ 44 mil (R$ 258 mil).”
Chile – Raúl Neira, El Mercurio
Mais de 24.500 casos confirmados de covid-19 e mais de 280 óbitos
“A situação no Chile está piorando. O futebol está suspenso desde meados de março e, para ser sincero, não há data de retorno. Os clubes estão sofrendo economicamente e vários aceitaram a Lei de Proteção ao Emprego: ou seja, as instituições pagam apenas as leis sociais (AFP, que é a aposentadoria, e Isapre, a saúde), e os jogadores cobram seguro-desemprego, uma quantia muito menor do que o dinheiro que recebem atualmente. O resumo de tudo o que está acontecendo é o Colo-Colo, o clube mais popular do Chile e que, ao não chegar a um acordo com a diretiva de redução de salários (uma constante no país), acabou se refugiando na lei e com os jogadores se rebelando contra a liderança. Com a incerteza de não saber quando o futebol voltará, os jogadores continuam treinando por conta própria. Não sabemos quando a bola vai rolar novamente, porém, se supõe a ideia de retomar os treinos novamente em junho e retornar ao torneio nacional em julho. Mas não há clareza, muito menos algo oficial.”
Bolívia
Mais de 1.800 casos confirmados de covid-19 e mais de 90 óbitos
Médicos da Federação Boliviana de Futebol (FBF), em parceria com médicos dos 14 clubes da primeira divisão profissional, definiram pontos do protocolo de biossegurança, para uma possível retomada da competição nacional. De acordo com a entidade, tudo dependerá da terminação das autoridades governamentais de saúde. Não há data para que a bola volte a rolar.
Equador
Mais de 30.200 casos confirmados de covid-19 e mais de 1.650 óbitos
A organização do Campeonato Equatoriano planeja sua retomada em dois cenários. O primeiro, sem público, a partir da rodada em que o torneio foi interrompido e a segunda, com uma mudança no formato da competição, que, neste caso, também aconteceria sem público. O diretor executivo da LigaPro, Alberto Díaz, afirmou que, com o adiamento da Copa América, será possível estudar os cenários sem pressa. Especula-se que a competição retorne entre o final de julho e o início de agosto.
Paraguai
Mais de 460 casos confirmados de covid-19 e 10 óbitos
A Associação Paraguaia de Futebol (APF) pretende retomar o torneio nacional entre agosto e setembro, quando as condições climáticas forem favoráveis e a curva pandêmica for decrescente. No entanto, os clubes querem que o campeonato seja restabelecido, no mais tardar, em julho. Médicos ligados a APF sugerem uma concentração 90 dias para os jogadores, o que é rejeitado pela categoria, por treinadores e por dirigentes.
Venezuela
Mais de 370 casos confirmados de covid-19 e 10 óbitos
A princípio, a organização do torneio nacional venezuelano apresentou à Federação Venezuelana de Futebol (FVF), uma proposta de restabelecimento do futebol em 5 de julho e a conclusão do campeonato em 29 de novembro. Contudo, nessa mesma solicitação, a organização sugere a realização de uma temporada com 16 equipes, a partir de 2021. A proposta teria o intuito de reduzir as despesas operacionais das equipes do primeiro escalão do futebol venezuelano. Ainda não há uma decisão oficial sobre a retomada da competição ou seu encerramento.