Exposição sobre Jackson do Pandeiro atrai estudantes e recebe elogio de pesquisador

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exposição na Unidade Tambaú da Fundação Casa José Américo (FCJA), em João Pessoa, sobre a vida e a obra de Jackson do Pandeiro completa dez dias e tem registrado visitação expressiva de estudantes, turistas e pesquisadores. Na última quinta-feira (16), a exposição recebeu a visita especial do pesquisador Jocelino Tomaz, do município de Caiçara, que tem o “Rei do Ritmo” como um dos seus principais focos de trabalho.

“Gostei muito. Achei a exposição muito bem distribuída e com foco bastante interessante em diversos aspectos da vida do grande artista paraibano”, resume Jocelino, ao mencionar as letras de músicas que foram guardadas pela família e os depoimentos de artistas influenciados como dois dos painéis mais interessantes e bonitos da exposição. Aproveitando a visita, Jocelino deixou parte do que tem feito até agora em sua pesquisa para o acervo.

Ativista cultural atuante na Paraíba, há tempos que Jocelino Tomaz dedica boa parte de sua trajetória a preservar e difundir a memória de Jackson do Pandeiro, o eterno “Rei do Ritmo”. Sua relação com a obra do artista ganhou força em 2019, ano do centenário do artista, quando promoveu o projeto ‘Águas do Pandeiro’, levando sua exposição e palestras a mais de 30 eventos em 20 cidades paraibanas.

“Foi um ano de intensa movimentação cultural. Participei de vários eventos, lancei o projeto, e até descobri a música ‘Garota de Botafogo’, que até então não constava em nenhuma discografia de Jackson”, recorda. Nesse mesmo período, Jocelino realizou um gesto simbólico e afetivo: doou ao Museu Jackson do Pandeiro, em Alagoa Grande, o primeiro disco de 78 rotações do artista, gravado em 1953, com as faixas ‘Sebastiana’ e ‘Forró em Limoeiro’. O museu possuía apenas os LPs, e a doação preencheu uma lacuna histórica. “Foi emocionante ver esse material voltar para casa. Era o mínimo que a gente podia fazer por quem deu tanto à nossa cultura”, diz.

O entusiasmo do pesquisador o levou a reunir quarenta depoimentos de personalidades de diversas áreas – músicos, pesquisadores, admiradores – sobre a importância de Jackson do Pandeiro. O resultado foi apresentado pela primeira vez durante o Festival de Arte Jackson do Pandeiro, também em 2019, e ganha espaço seis anos depois na atual exposição promovida pela FCJA.

Jocelino comenta que, apesar de envolver idêntica produção em Campina Grande, o evento na capital paraibana faz lembrar o festival campinense, que foi “o mais importante do centenário do artista”. Em João Pessoa, ele participa como expositor do acervo que tem sobre Jackson, mas, no evento de Campina Grande, além de montar exposição, Jocelino ministrou palestras e apresentou os depoimentos, ampliando o alcance da obra e da figura de Jackson. “A cada novo contato com o público, a gente percebia como crescia a admiração por esse nosso filho ilustre da Paraíba”, conta.

Mais do que um levantamento documental, o trabalho de Jocelino nasce de uma admiração pessoal. Seu objetivo sempre foi apresentar um Jackson completo, muito além das músicas mais conhecidas. “Muita gente não faz ideia de que Jackson gravou 440 músicas. Ele não foi apenas um cantor de sucesso popular; foi uma escola, uma referência para a música brasileira”, afirma.

Para o pesquisador, a versatilidade é o traço que mais define Jackson do Pandeiro. “Ele transitava entre os ritmos com uma naturalidade que encantava. Sua divisão rítmica era algo inédito, uma combinação de precisão e improviso que justificou o título de ‘Rei do Ritmo’”, explica. A reunião de testemunhos de artistas de diferentes gerações serviu justamente para evidenciar esse alcance. “Queríamos mostrar o quanto ele influenciou gêneros diversos, do coco ao samba, do forró ao baião. Jackson é vanguarda e tradição ao mesmo tempo”, enfatiza o pesquisador.

Embora tenha usado fontes bibliográficas e registros de Internet, o projeto nasceu da paixão de um admirador. Jocelino cita a leitura da biografia ‘Jackson do Pandeiro: o Rei do Ritmo’, de Fernando Moura e Antônio Vicente, como um ponto de virada. “Até ler aquele livro, eu conhecia umas vinte músicas dele. Depois percebi a dimensão da sua obra, da sua história de superação e de como ele se tornou referência em vários gêneros musicais”, recorda.

O festival de 2019 acabou se tornando um marco não apenas para o público, mas também para o próprio Jocelino, que estabeleceu contato direto com o biógrafo de Jackson, o jornalista e presidente da FCJA Fernando Moura, multiplicando as ações de divulgação em escolas e eventos. “De lá pra cá, o trabalho não parou. Em cada palestra, em cada conversa com estudantes, a gente vê nascer uma nova admiração. Jackson faz a gente ter mais orgulho de ser paraibano”, diz.

A paixão de Jocelino pelo universo jacksoniano também o levou a explorar novas linguagens. Ele utiliza os quadrinhos como ferramenta educativa, apresentando Jackson do Pandeiro em HQs, adaptação de Moura e Megarão Xavier, como ponto de partida para atividades culturais. “É maravilhoso ver uma turma inteira lendo Jackson em quadrinhos e depois participar de uma palestra sobre ele. Isso cria um vínculo afetivo com a cultura popular”, comenta.

Ao ser convidado a dar depoimento sobre Jackson, Jocelino confessa certa dificuldade. “Depois de ouvir tantos depoimentos sobre ele, é difícil não repetir as mesmas admirações. Todas são verdadeiras”, reconhece. Ainda assim ele destaca o papel de Jackson entre os pilares da música nordestina. “Tem quem fale em Gonzaga, Jackson e João do Vale. Jackson é o nosso pilar paraibano. E, junto a nomes como Sivuca e Marinês, representa o melhor da música feita aqui”.

Ainda segundo Jocelino, o segredo do talento de Jackson está nas origens: “Ele veio do coco, da roda, do som dos quilombos, daquela miscelânea de Alagoa Grande. Teve contato com cabarés, pandeiristas, sambistas – e tudo isso foi moldando esse talento inimitável”. E conclui, com a reverência de quem fala de um mestre incontestável: “Vale a pena conhecer, ouvir e divulgar a obra de Jackson do Pandeiro. Ele fez algo que ninguém fez – e ninguém fará. É inimitável”, conclui o pesquisador.